sexta-feira, 4 de maio de 2012

No princípio do fim



Há ruídos que não se ouvem mais:
- o grito desgarrado de uma locomotiva na madrugada
- os apitos dos guardas noturnos quadriculando
como um mapa a cidade adormecida
- os barbeiros que faziam cantar no ar as suas tesouras
- a matraca do vendedor de cartuchos
- a gaitinha do afiador de facas
- todos esses ruídos que apenas rompiam o silêncio.
E hoje o que mais se precisa é de silêncios
que interrompam os ruídos
Mas que se há de fazer?
Há muitos – a grande maioria – que já nasceram no barulho. E nem sabem, nem notam, por que as suas mentes são tão atordoadas, seus pensamentos tão confusos. Tanto que, na sua bebedeira auricular, só conseguem entender as frases repetitivas da música Pop. E, se esta nossa “civilização” não arrebentar, acabamos um dia perdendo a fala – para que falar? Para que pensar? Ficaremos apenas no batuque:
Tan!tan!tan!tan!tan!

Mario Quintana

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